Capitulo II A precisão na exatidão para os antigos egípcios, era simbolizada por uma pluma que servia de peso num dos pratos da balança em que se pensavam as almas. Essa pluma levíssima tinha o nome de Maat, deusa da balança. O hieróglifo de Maat indicava igualmente a unidade de comprimento, com a exatidão na literatura invocando o nome de Maat.
Para Giorgio Santillana, exatidão quer dizer principalmente três coisas:
1)Um projeto de obra bem definido e calculado;
2)A evolução de imagens visuais nítidas, incisivas, memoráveis; temos em italiano um adjetivo que não existe em inglês, “icastico” do grego;
3)Uma linguagem que seja mais expressiva possível, como léxico em sua capacidade de traduzir as nuanças do pensamento e da imaginação.
O primeiro impulso decorra de uma hipersensibilidade ou “alergia” pessoal: A linguagem é sempre usada de modo aproximativo, casual, descuidado, e isso causa intolerância e repúdio. Eliminando as razões de insatisfação de que posso dar conta.
A literatura, quer dizer, aquela que responde às exigências de linguagem, se torna aquilo que na verdade deveria ser. Consistindo à certa parte da linguagem numa perda de força cognoscitiva e da imediaticidade como um automatismo que tende à nivelar a expressão em formas genéricas, anônimas, abstratas, adiluir os significados, embotar os pontos expressivos.
Resumo da proposta de Calvino
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Leopardi exige de nós para podermos apreciar a beleza do vago e do indeterminado. Para se alcançar a imprecisa desejada, é necessário a atenção extremamente precisa e meticulosa que ele aplica na composição de cada imagem, na definição minuciosa dos detalhes, na escolha dos objetos, da iluminação, da atmosfera.
Hedonista infeliz, como era Leopardi, o desconhecido é sempre mais atraente que o conhecido; só a esperança e a imaginação podem servir de consolo às dores e desilusões da experiência. Ocorre-me estar explicando Leopardi apenas em termos de sensações, como se aceitasse a imagem que ele pretende dar de si mesmo: a de um sensualista do século XXII. Leopardi parte, do rigor abstrato de uma idéia matemática de espaço e de tempo e a confronta com o indefinido e vago flutuar das sensações.
Exatidão e indeterminação são igualmente os pólos entre os quais oscilam as conjecturas filosófico-irônicas de Ulrich, no imenso e inacabado romance de Robert Musil, Der Mann Obne Eigenschaften [O homem sem qualidades].
O ponto em que Musil mais se aproxima de uma proposta de solução é quando recorda a existência de “problemas matemáticos que não admitem uma solução geral, mas antes soluções particulares que, combinadas, se aproximam da solução geral” e admite que tal método pudesse ser aplicado à vida humana.
Muitos anos mais tarde, outro escritor em cuja mente coabitavam o demônio da exatidão e o da sensibilidade, Roland Barthes, indagaria sobre a possibilidade de concebermos uma ciência do único e irrepetível (La Chambre Claire).
Ulrich logo se mostra resignado diante das derrotas para as quais seu amor à exatidão necessariamente o arrasta, já outro grande personagem intelectual de nossa época , não tem dúvidas quanto ao fato de que o espírito humano se possa realizar da forma mais exata e rigorosa possível, e se Leopardi, da provas da máxima exatidão quando designa as sensações indefinidas que causam prazer, Valéry, poeta do rigor impassível da mente, da provas da máxima exatidão colocando seu personagem diante da dor combatendo o sofrimento por meios de exercícios de abstração geométrica.
Paul Valéry é a personalidade em nosso século, que melhor definiu a poesia como tensão para exatidão. [o demônio da lucidez. O gênio da analise e o inventor das mais novas e sedutoras combinações da lógica com a imaginação, do misticismo com o calculo, o psicólogo da exceção, o engenheiro literário que aprofunda e utiliza todos os recursos da arte...] Esta conferencia não se deixa conduzir na direção que me havia proposto. Eu me propunha falar de exatidão, não do infinito e do cosmo. Queria lhes falar de minha predileção pelas as formas geométricas, pelas simetrias,
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pelas séries pela analise combinatória, pelas proporções numéricas, explicar meus escritos em função de minha fidelidade a uma idéia de limite, de medida.
A relação entre esse argumento determinado de todas as suas variantes e alternativas possíveis, todos os acontecimentos que o tempo e o espaço possam conter. É uma obsessão devorante, destruidora, suficiente para me bloquear. Esse liame entre as escolhas formais da composição literária e a necessidade de um modelo cosmológico.
A oposição ordem-desordem, fundamental na ciência contemporânea.
A obra literária é uma dessas mínimas porções nas quais o existente se cristaliza em uma forma, adquire um sentido que não é nem fixo, nem definido, nem enrijecido numa imobilidade mineral, mas tão vivo quanto um organismo. A poesia é a grande inimiga do acaso, embora sendo ela também filha do acaso e sabendo que este em ultima instancia ganhara a partida: [um lance de dados jamais abolira o caso]
O que me interessa aqui é a justaposição como num daqueles emblemas do século XVI. Cristal e chama duas formas da beleza perfeita da qual o olhar não consegue desprenderem-se, duas maneiras de crescer no tempo, de desprender a matéria circunstante, dois símbolos morais, dois absolutos, duas categorias para classificar os fatos, idéias, estilo e sentimento. Maiores possibilidades de exprimir a tensão entre racionalidade geométrica e emaranhada das existências humanas, foi o da cidade.
Único símbolo todas as minhas reflexões, experiências e conjecturas; e também porque consegui construir uma estrutura facetada em que cada texto esta próximo dos outros numa sucessão que não implica uma consequencialidade ou uma hierarquia, mas uma rede dentro da qual se podem traçar múltiplos percursos e extrair conclusões múltiples e ramificados.
Exatidão, bifurcava em duas direções. De um lado, a redução dos acontecimentos contingentes há esquemas abstratos que permitissem o calculo e a demonstração de teoremas; do outro, o esforço das palavras para dar conta, com a maior precisão possível, do aspecto sensível das coisas. São duas pulsões distintas no sentido da exatidão que jamais alcançam a satisfação absoluta: em primeiro lugar, porque as línguas naturais dizem sempre algo mais em relação as linguagens formalizadas, comportando-se sempre uma quantidade de rumor que perturba a essencialidade da informação, em segundo porque ao se dar conta da densidade e da continuidade do mundo em que nos rodeia, a linguagem se revela lacunosa, fragmentaria, diz sempre algo menos com respeito a totalidade do experimentável. Acompanhado a linha da enguia e fazendo dela um símbolo moral.
Em mallarmé a palavra atinge o Maximo de exatidão tocando o extremo da abstração e apontando o nada como substancia ultima do mundo; a palavra é o meio de dar conta da variedade infinita destas formas irregulares e minuciosamente complexas. Há quem ache que a palavra seja o meio de se atingir a substancia do mundo, as substancias ultimo, única, absoluta; a palavra, mais do que representar essa substancia, chega mesmo a identificar-se com ela (logo, é incorreto dizer que a palavra é um meio) : Há palavra que só conhece a si mesma, e nenhum outro conhecimento do mundo é possível. Há, no entanto, pessoas para quem o uso da palavra é uma incessante perseguição das coisas uma aproximação, não de substancia mas de uma infinita variedade, em roçar de sua superfície multiforme e inexaurível.
O exemplo mais significativo de um combate com a língua nessa perseguição de algo que escapa á expressão é Leonardo da Vinci os códices de Leonardo são um documento extraordinário de uma batalha com a língua, uma língua híspida e nodosa, a procura da expressão mais rica, mais sutil e preciosa. Ninguém possuía sabedoria igual no mundo em que viveu, mas a ignorância do latim e da gramática o impedia de se comunicar por escrito com os doutos de seu tempo. Sentia-se sem duvida capaz de expressar pelo desenho do que pela palavra, uma parte de seu conhecimento.
Essa seqüência de aparição que se apresenta quase como um símbolo da força solene da natureza abre-nos uma fresta para o funcionamento da imaginação de Leonardo para que possamos conservá-la na memória o maior tempo em toda nossa limpidez e mistério.
“Seis propostas para o próximo milênio” Ítalo Calvino
FMU – Turma A – Manhã
Bruna Alessandra dos Santos – RA 5523817
Carla Caroline B Pereira – RA 5492347
Erika Y.K.Ito – RA 5453671
Gabriela de Paula Ribeiro - RA 5567070
Halonna M. Pereira – RA 5523712
Heloisa I. Carvalho – RA 5464716
Mirella Milani- RA 5330337
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um abraço,
jo