quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Entrevista com o ícone da moda Costanza Pascolato



A icônica Costanza Pascolato faz um intervalo na sua jornada fashion para conversar com exclusividade com o Closet On Line

Closet On Line – Qual é o grande luxo hoje em dia?
Costanza Pascolato – Conforme sempre costumo dizer, mais do que parecer jovem e rica, o grande luxo contemporâneo é ter o corpo bem tratado, dentro da sua própria realidade. Seja ao primeiro olhar ou em última análise, o corpo, mais do que a roupa, revela o jeito que você escolheu viver. Quando observo pessoas que demonstram bem-estar, harmonia, naturalidade e um sentimento de estar à vontade, em sintonia com elas mesmas, sem se preocupar com padrões rígidos e massificados, penso que elas, sim, vivem uma experiência luxuosa na nossa época.
COL – Como a Sra. tem enxergado o desenvolvimento do setor da moda brasileira?
CP – Com o maior otimismo, em especial porque tive o privilégio de observar o movimento ainda incipiente da indústria e do jornalismo de moda no Brasil a partir dos anos de 1970. Desde que o país conseguiu organizar seu calendário de lançamentos sazonais, com semanas de moda em São Paulo e depois no Rio, há mais ou menos uma década, começamos a criar as condições para entender melhor a moda e seus mecanismos, ainda que não tenhamos uma cultura ou uma tradição nesse segmento. Pelo clima e pela história do país, temos uma vocação para a roupa casual que nos faz experts em itens como o jeans, a camiseta e o biquíni. Nossos designers, quando se permitem aventurar em idéias criativas mais independentes, assumindo a cultura visual e a estética que traduzem o comportamento nacional, criam com entusiasmo admirável.
COL – A Sra. acompanha as principais semanas de moda do mundo, qual o nosso diferencial?
CP – Nossa vocação mais casual, como disse, é evidente. Também não há aqui o alcance _e a pressão_ de um mercado influente e tradicional, como a Europa, onde as coleções vão determinar o que as pessoas do mundo inteiro vestirão nesses tempos de sociedade global.
COL – E jornalismo de Moda como a Sra. o vê atualmente?
CP – Com entusiasmo e com a constatação de que a moda nunca esteve tão moda. É só observar a generosidade dos espaços, seja na internet, com a proliferação do blogs, ou na imprensa, digamos, mais mainstream; na mídia, enfim, de maneira geral. De uma forma ou de outra, a democratização da informação on line, seja com o empenho nas grandes coberturas dos temas ligados a moda ou nos diários virtuais independentes que atraem gente de todo o tipo, a moda, afinal, revela-se uma autêntica fábrica de notícias. E todo mundo, mesmo quem diz não estar muito ligado ao tema, adora uma historinha fashion, seja pelo business gigantesco que a moda representa ou simplesmente para saber sobre a celebridade do momento no item estilo.
COL – A Sra. observa a moda mundial há 40 anos, o que ainda a seduz neste universo?
CP – Minha ligação com a moda é passional. Por ser tão mutável, a moda é uma radiografia de cada época. Foi a moda que me ensinou que é possível, sim, mudar e adotar pontos de vista que você imagina que nunca adotaria. Sempre há possibilidades. A moda é o sistema e a dinâmica que eu mais conheço e acompanho. Graças a ela, descobri que tenho talento para entender, às vezes adivinhar antes, pensar comigo mesma, o que aquele estilista ou aquela marca vai fazer. São maneiras de avançar limites e fronteiras. Na vida, acho que foi esse exercício que me fez ver que existem várias possibilidades e que tudo é mutável, impermanente. É só você se encaixar e acreditar, exatamente como na moda. Resumindo: a moda sempre me seduziu e ainda me seduz integralmente como alternativa para tentar entender melhor o mundo e as pessoas.
COL – Como a Sra. define seu terceiro livro, “Confidencial”. Seria uma biografia?
CP – Não, não é. O livro é uma resposta, como adianto logo no começo, à curiosidade geral de como é possível estar tão arrumadinha a essa altura da vida. Tenho 69 anos e mantenho uma disposição considerável, que gera perguntas de toda ordem por parte das pessoas. Não é, portanto, um biografia, ainda que tenha “causos de uma fashionista”, como digo, porque sempre resisti a tentação de ficar falando em primeira pessoa. Organizei algumas histórias pessoais relevantes, que aparecem lado a lado com dicas práticas de estilo e bem viver. É pura auto-ajuda fashion.
COL – O que é ser chic para a Sra.?
CP – Ser chic é ser educado. O que ser é educado?, alguém vai perguntar. Bem simples: respeite o espaço do outro incondicionalmente e você estará praticando boas maneiras, sendo educadíssimo à moda do novo século. Importante lembrar que essa atitude, esse esforço para tentar ser uma pessoa um pouquinho mais educada, polida, tem um poder subsersiso impressionante, numa época de modos e maneiras tão apressados, quase agressivos às vezes, em que nos esquecemos do mínimo traquejo social no convívio humano.
COL – A Sra. acha que o segredo da mulher moderna e bem sucedida está no verbo despreocupar-se? Quais as dicas práticas para atingir tal sensação?
CP – Conecte-se no presente, tipo aqui e agora, e faça a sua parte da melhor forma possível, sem achar que pode dar conta de tudo e de todos. As coisas fogem ao nosso controle. Por pretensão, arrogância, confusão mental ou pela força do ego, às vezes nos esquecemos disso. Também temos o hábito de ficar sofrendo com o que já passou, o que não muda nada porque o que tinha que ser já foi, já era. Ou criando expectativas em relação ao que pode acontecer, o que também é uma fonte inesgotável de sofrimento. Se você está almoçando, por exemplo, apenas coma, dedique-se ao prazer daquela refeição. Desligue o celular, não fique pensando no próximo compromisso ou que vai se atrasar para o cabeleireiro. Divirta-se com aquele instante. Até riscos de excesso você elimina assim, concentrada apenas no que está fazendo. Tudo faz mais sentido. Com um pouquinho de disciplina e organização, ligada apenas no presente, você vai aos poucos se despreocupando com o que já era ou com o que está por vir. É uma questão de praticar, como tudo na vida.
COL – Quem deveria ler seu livro?
CP – Difícil essa pergunta. Não tenho o hábito de criar regras ou rótulos na linha de “quem ou o que deve/ quem ou o que não deve”. Alguns leitores dizem que o tom, meio confidencial, tal qual o título, é agradável como leitura. Sou suspeita. Mas se tiver mesmo que recomendar, recomendo para pessoas dispostas a compartilhar pontos de vista de alguém apaixonada pela vida _e que tem o maior respeito pelas diferenças, incondicionalmente.
COL – Quais os planos para o futuro da Costanza?

CP – Viver um dia de cada vez com uma agenda já bastante animada, que, cá entre nós, depende de certo fôlego.
COL – Podemos aguardar um quarto livro para o futuro?
CP – Essa pergunta é recorrente e respondi reticente _ou com um “agora chega” _tanto no lançamento do primeiro como no do segundo livro. Para quem está ligadíssima no presente, eu diria que três é um ótimo número.
COL – E para a futura geração da moda, quais são as dicas.
CP – Uma só, talvez. Mesmo que a velocidade do mundo ande aceleradíssima, nos convidando permanentemente à superficialidade e à urgência de tudo_das tendências, das informações, das relações, da pesquisa, do consumo_ a vida e a moda ficam mais intensas, legítimas e interessantes quando nos dedicamos profundamente ao que, de fato, é relevante para nós.
Julho/2009
http://www.closetonline.com.br/

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada

um abraço,
jo