domingo, 25 de julho de 2010

Sua Mãe - Vanessa



http://www.suamae.com.br/
Sua Mãe sacou um negócio que eu não saquei em cima do lance. A década de 80 foi brega. Não estou falando de ombreira, mullet ou ursinho blau-blau, que isso até é covardia. Nem falo de características formais e sim da exacerbação dramática que caracteriza este tipo tão vilipendiado de música. Parte da turma que eu na hora julgava puro intelecto era mesmo chegada ao exagero. Ou alguém aqui escuta contenção em “e se um caminhão de 10 toneladas matar nós dois, morrer do seu lado seria meu prazer e privilégio”? Ninguém ali jamais desconfiou da maquiagem borrada do Robert Smith? Ninguém lá nunca estranhou que Renato Russo quisesse gravar algo dos Menudos? Sua Mãe aguça-nos esses sentidos.
O fato de Wagner ser o baita ator que é ajuda pacas na hora de passar a verdade dessas letras, de peito aberto, sem medo. Porque ao menos desde a bossa nova, o “bom gosto” reinante na música brasileira passou a ser o da estilização da emoção. Sua Mãe não tem nada a ver com isso. Sua Mãe usa o peso das guitarras e a batida pós-punk – e, no disco, uma seção de sopros que ora lembra os Bálcãs ora lembra Los Hermanos – para dizer umas verdades, assim, na lata, sem perder o senso de humor. No rock brasileiro nascido nos anos 80, as referências mais claras são os Titãs da primeira fase e o Cazuza mais exagerado.
Daí Wagner ter carta branca para cantar “caía a tarde e ninguém me ligava, nove quatro zero meia, duas terças três oitavas, os números embaralhados, meu prefixo é solidão” (Prefixo solidão). Ou ainda “meu bem, desculpas para quê se eu nem te liguei, como pude esquecer o seu aniversário, o seu presente, que todo mundo te deu, menos eu, uma ligação, uma mensagem, um recado no Orkut” (Desculpas para quê). Daí Sua Mãe se entregar às músicas como Ian Curtis tentando alcançar o remédio para epilepsia. Daí Wagner dizer que quer vender disco independente nas Lojas Americanas.

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