quarta-feira, 18 de agosto de 2010

ESTUDOS DO CORPO: Eis o poema: Os ombros que suportam o mundo

                                                            Olá Jô,
Sou seu aluno de Moda da FMU, turma B, noturno: André Abreu Ferreira


Estou lendo o livro do Calvino, Seis propostas para o próximo milênio, e estou adorando. Estava aqui pesquisando um poema que falasse sobre o corpo e achei um do Carlos Drummond que tenho certeza que se o Calvino tivesse conhecimento, estaria em seu primeiro capítulo do livro, que fala sobre Leveza.
 
Eis o poema:
Os ombros que suportam o mundo
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.

Tempo de absoluta depuração.

Tempo em que não se diz mais: meu amor.

Porque o amor resultou inútil.

E os olhos não choram.

E as mãos tecem apenas o rude trabalho.

E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.

Ficaste sozinho, a luz apagou-se,

mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.

És todo certeza, já não sabes sofrer.

E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?

Teus ombros suportam o mundo

e ele não pesa mais que a mão de uma criança.

As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios

provam apenas que a vida prossegue

e nem todos se libertam ainda.

Alguns, achando bárbaro o espetáculo,

prefeririam (os delicados) morrer.

Chegou um tempo em que não adianta morrer.

Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.

A vida apenas, sem mistificação.

Quando Carlos Drummond coloca 'TEUS OMBROS SUPORTAM O MUNDO E ELE NÃO PESA MAIS QUE A MÃO DE UMA CRIANÇA', lembrei na mesma hora do Calvino, e essa relação do mundo "pesado" e a leveza. Acho que principalmente nesse trecho, ao colocar que carregamos um mundo grotesco nos ombros, onde se perdeu o amor, a sensibilidade, o respeito, a fé (Não exatamente em Deus, mas no ser humano em si), entre tantas outras coisas, ele traz a doce, inocente e leve imagem da mão de uma criança. Se colocassemos em uma balança a imagem de guerra, fome, morte e do outro lado, a serena imagem de uma criança e suas leves mãos, tenho certeza que a última pesaria mais, vendo com os olhos do Calvino.

Enfim, quis compartilhar isso até mesmo porque foi o poema que escolhi para fazer as colagens (construções).

Um abraço, André Abreu Ferreira

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um abraço,
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