terça-feira, 27 de janeiro de 2009

SPFW: ETs e masculino no último dia

Como inspiração para a coleção intitulada O ET seduziu a Duquesa, Gloria Coelho cita o Ferro Eletrolux, a Ufologia, o Motocross, e a Arquitetura, entre mais uma dezena de irreverências. Contudo, a assinatura da estilista é mesmo definida pelo acento futurista que ela imprime à galeria de tipos medievais que povoam seu imaginário. Algo como um encontro de armaduras primitivas com figurino de princesa alienígena conduzido por mão sensível.Esta conjunção de passado e futuro reaparece na forma tipo Cocoon, aplicada em excelentes casacos e vestidos com mangas de cortes inventivos.
Pérolas, veludos, cristais e fitas de cetim acentuam o tom precioso do conjunto, valorizado ainda pela riqueza da pesquisa têxtil, hora sugerindo aspectos primitivos, hora a mais alta tecnologia (Fotos 1 e 2).A Amapô fez subir a temperatura no último dia de desfiles com alfaiataria criativa, muitas estampas e esfuziante colorido new age. A Fernanda Lima com muitos fios louros a mais e alguns quilinhos a menos, abriu o desfile vestindo look estampado e legging prateada. A partir daí os termômetros não baixaram. A Amapô costurou varias tribos -punks, ravers, rockers, emos- em um mesmo guarda-roupa, com percepção aguda dos anos 90. Ao voltar a unir peças elaboradas com o que há de mais comercial, inclusive o jeans, a marca acertou no coração da moda jovem.
E o que é melhor, para ambos os gêneros .Os vestidos curtos, simplificados na aparência, mas construídos com inventividade técnica e bons materiais, garantem a empatia e vão sustentar as vendas desta coleção da Maria Garcia, que cita os Smiths como referência.São boas as propostas de duas peças, com tops e casaquinhos acompanhados por saia curta e calça justa. A cartela discreta explode brevemente em amarelo-gema, e logo retorna à sutileza do cinza, do branco, e do preto. A roupa esbanja eficiência comercial, com inteligência e qualidade, e exibe graça apenas discreta como desfile (Fotos 5 e 6).Em temporada inspirada em brasileirices o prédio da Bienal ganhou uma divertida coleção de frases de pára-choque de caminhão. Uma delas diz: "Existo porque insisto", e talvez defina o trabalho do persistente Jefferson Kulig . Com repertório curto e oscilando estilisticamente, ele é eclipsado pela consistência dos outros participantes da semana de moda paulista.Mas o estilista tem seus méritos e seu público, e apresentou vestidos de bom corte, looks compostos com saia lápis, e soluções interessantes de fechamento com trespasses e amarrações.Quem veste a roupa que o Alexandre Herchcovitch faz, sabe que a diferença entre ele e tantos outros nem é que se vê de imediato. Comprei uma calça há quase dois anos e só recentemente descobri que ela tinha um pequeno bolso na parte interna da panturrilha, e ainda por cima fechado por zíper e forrado de vermelho. A historinha ilustra, mas não dá conta de explicar o prazer que os cortes inventivos da alfaiataria do estilista podem proporcionar.
Esta capacidade de reinventar na construção e na minúcia, enriquecendo a relação com a funcionalidade e com a anatomia, não se revela de cara. Ficam fora do espectro das imagens, mas é decisiva na avaliação quase unânime do estilista com um dos melhores em atuação.Na coleção masculina que ele apresentou no último dia, sobram motivos para que ele permaneça neste posto. A base é a roupa do homem do mar, tomada na sua construção mais do que em clichês visuais navy. É daí que saem ótimas peças comerciais, blazers de abotoamento duplo, as calças folgadas de bainha virada e os macacões; e também looks plastificados, ou em dourado e vermelho. Estes para satisfazer um desejo de moda mais agudo. Do short ao terno, os rapazes não vão poder reclamar de falta de opções (Fotos 9 e 10).A esfuziante Neon , celebrada pelas estampas e pela força das apresentações, conquistou o direito de encerrar a maior temporada de moda do país. A propensão ao deboche consolidou uma imagem para a Neon e caiu como uma luva para fechar esta edição cujo tema era a alegria.As garotas entravam duas a duas, carregando na caricatura bem humorada do ritual fashion, com muita pose e exagero. Os desfiles da Fenit nos anos 60 e 70 ao jeitão marcado e lento do período do new look, e das apresentações de alta costura, deram o tom da grande festa promovida pela marca. Uma ou outra modelagem mais estruturada, alguns looks lisos e o tricô com fio de lurex estão entre as novidades apresentadas (Fotos 11 e 12).Desfile do dia: Alexandre HerchcovitchO melhor desfile do último dia foi o do Alexandre Herchcovitch. Um afinado exercício de convergência entre estilo autoral e roupa comercial para homens. Coisa rara no páis.

Por Eduardo MottaFotos: © Agência Fotosite

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